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Minas não deixa dúvidas

Luiz Cláudop dos Reis Campos
Publicado em 12/06/2025 às 18:39
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV), conhecida como Comissão da Verdade, foi criada em 2011, na gestão da presidente Dilma Rousseff, mineira de Belo Horizonte, e teve como objetivo apurar violações de direitos humanos ocorridos entre 1946 e 1988, com ênfase no período da ditadura militar (1964-1985).

O relatório final desse trabalho representa um marco histórico, que contribui para trazer à tona fatos que evidenciam e ratificam a crueldade do período da ditadura militar no Brasil, que alguns tentam minimizar ou até mesmo colocar em dúvida sua existência. “Não sei, eu não sou historiador, nunca me aprofundei no assunto... acho que tudo é questão de interpretação”, disse o governador Zema.

O próprio relatório da CNV já é farto em material para aprofundamento, caso o governador se interesse e leia com a devida isenção e curiosidade de iniciante. Só em Minas Gerais, segundo consta no relatório da CNV, foram contabilizados 1.531 presos políticos, trinta centros de tortura em Belo Horizonte e região e 125 agentes torturadores.

 O ex-presidente mineiro JK foi cassado quando exercia o mandato de senador, em 8 de junho de 1964. “Meu caro Tancredo, lembro-me de que a sua foi a última mão que apertei antes de me dirigir ao avião. Naquele instante de brutalidade, a sua presença me confortou”, trecho da carta de JK a Tancredo Neves, mencionando o momento em que partia do Brasil para o exílio. Seguramente, os dois jamais colocaram em dúvida a ditadura.

Recentemente, perdemos Sebastião Salgado, grande mineiro, conhecido internacionalmente como um dos maiores fotógrafos documental e histórico, que, à época da ditadura, foi morar no exterior: “Fui obrigado a sair do Brasil por causa da ditadura. O Brasil era uma tragédia naquele momento”.

Outro célebre mineiro, Herbert de Souza, o Betinho, foi um dos mais importantes sociólogos e ativistas sociais do Brasil: “Vivi a dor do exílio, a perda de amigos, o medo constante. Mas nunca perdi a certeza de que lutar por justiça vale a pena”.

Zuzu Angel, mineira de Curvelo, uma das mais importantes estilistas da história da moda no Brasil, que teve seu filho morto pela ditadura, foi incansável oponente ao regime, morta em 1976 em circunstâncias cercadas de dúvidas e suspeitas: “É preciso lembrar que a ditadura não foi apenas um período da história, mas um trauma que ainda afeta muitas famílias”.

Carlos Alberto Libânio Christo, o frei Betto, mais um mineiro notável, autor de “Batismo de Sangue” entre tantos escritos seus sobre o assunto: “A memória da ditadura deve ser preservada para que nunca mais se repita o silêncio imposto pela violência”.

E por aqui, no Triângulo Mineiro, em Uberaba onde resido, compartilho da fraterna amizade de Gilberto Martins Vasconcelos, brilhante advogado, natural de Delfinópolis. Gilberto foi torturado e preso por mais de dois anos no início da década de 70: “Quem ou pela tortura por dez dias e noites, ininterruptamente, sabe o que foi a ditadura no Brasil”.

Gildo Macedo Lacerda, natural de Ituiutaba, MG, mudou-se para Uberaba aos 14 anos e era ativo militante estudantil. Gildo foi torturado e assassinado em Pernambuco. O DCE da Uniube (Universidade de Uberaba) leva seu nome.

Como se percebe, através de alguns expoentes mineiros citados, não é necessário sair de Minas e nem se aprofundar para constatar o óbvio. Creio que frei Betto e Dilma Rousseff não se furtariam a dissipar dúvidas que acometem o governador conterrâneo. A civilidade mineira fala mais alto. Ditadura nunca mais.

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